“Permaneça em vós o que ouvistes desde o princípio. Se em vós permanecer o que
desde o princípio ouvistes, também permanecereis vós no Filho e no Pai” (1 Jo 2.24).
O escritor da Carta aos Hebreus exorta seus leitores no capítulo 2.1-4: “Por esta razão, importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas, para que delas jamais nos desviemos. Se, pois, se tornou firme a palavra falada por meio de anjos, e toda transgressão ou desobediência recebeu justo castigo, como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram; dando Deus testemunho juntamente com eles, por sinais, prodígios e vários milagres e por distribuições do Espírito Santo, segundo a sua vontade”.
Anteriormente, o capítulo 1 menciona como Deus fala: “Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo” (Hb 1.1-2). Nos versículos seguintes segue um impressionante louvor ao Filho de Deus. O autor escreve que Deus criou o mundo por intermédio dEle (v.2), que Ele é o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do Seu ser (v.3), que Ele é muito mais sublime que os anjos (v.4) e muitas coisas mais. Hebreus 1 nos aprofunda na grandiosidade de Jesus Cristo de uma forma maravilhosa. É um louvor pleno, uma ampliação de Colossenses 2.3, onde Paulo escreve que em Jesus Cristo “todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos”.
Muitas pessoas buscam a sabedoria. Filósofos e fundadores de religiões são citados e enaltecidos por sua sabedoria. Especialmente as religiões orientais com suas técnicas de meditação e suas experiências de auto-revelação gozam de muita popularidade e são consideradas exemplares e dignas de imitação por nossa sociedade. Mas o que não se reconhece é que toda essa pretensa sabedoria humana perde o brilho e a cor quando comparada à sabedoria que está oculta em Jesus Cristo.
Ouvir o que Deus fala através de Jesus
No capítulo 2 da Carta aos Hebreus, a ênfase é que escutemos o falar de Deus por meio de Jesus Cristo – e obviamente pratiquemos o que ouvimos. Afinal, devemos ser não apenas meros ouvintes mas praticantes da Palavra de Deus (Tg 1.22). Apenas ouvir não basta, é o que nos diz Lucas 11.28: “Bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus e a guardam!” Guardar a Palavra é colocá-la em prática. Se você ouvir o tiro de largada e continuar parado, jamais conseguirá ganhar a corrida – mesmo que ouça muito bem a ordem de partida.
As religiões orientais com suas técnicas de meditação e suas experiências de auto-revelação gozam de muita popularidade e são consideradas exemplares e dignas de imitação por nossa sociedade.
Esse é um ponto em que, infelizmente, muitos cristãos têm problemas. Eles lêem e ouvem a Palavra de Deus, mas não a cumprem. O escritor da Carta aos Hebreus, inspirado por Deus, enfatiza como é importante guardar o Evangelho que nos foi confiado: “Por esta razão, importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas, para que delas jamais nos desviemos” (Hb 2.1).
A Bíblia, a Palavra de Deus, é o parâmetro normativo para a nossa vida inteira. Para nós cristãos a Bíblia é aquilo que o livro de bordo significa para um maquinista de trem. Se o maquinista não se atém ao plano de viagem, o caos se instala em todas as linhas e estações da ferrovia. Conforme as circunstâncias, toda a rede pode ficar paralisada. Cedo ou tarde acaba acontecendo a mesma coisa com cristãos que pensam não precisar de um guia para o caminho, que prescindem das Sagradas Escrituras. Em algum momento de suas vidas eles naufragarão na fé e o trem de suas vidas descarrilhará ou tomará o rumo errado.
Eu pergunto: Você é cristão? Você apenas se chama assim, ou quer viver como crente? Então leia, ouça e aja segundo a orientação da Bíblia – a Palavra de Deus. Sem essa Palavra todos nós corremos o risco de nos desviarmos e de errarmos o alvo, como nos avisa Hebreus 2.1. E qual é o alvo supremo da vida cristã? A glorificação de Deus em Seu Filho Jesus Cristo e por meio dEle. Assim, Pedro escreve: “...para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo” (1 Pe 4.11). Para alcançar concretamente esse alvo, precisamos permanecer na Palavra e não nos desviar dela, nem à direita, nem à esquerda.
Independentemente do assunto em questão,
é importante ouvir e, principalmente, agir segundo aquilo que a própria Bíblia diz. O que as pessoas dizem não é importante. É completamente irrelevante o que eu lhe digo. Mas aquilo que a Palavra de Deus lhe diz é de importância vital. Podemos aprender das outras pessoas, podemos aprender de seus comentários, de suas pregações e análises. Tudo isso pode e deve nos ajudar bastante, mas não substitui a Palavra de Deus viva. Cada sermão, cada comentário ou o que quer que seja pode ser um complemento precioso para entendermos melhor o que a Bíblia nos diz. Mas todas essas ajudas devem nos conduzir à Palavra, jamais substituí-la. Isso está completamente fora de cogitação.
Por isso os mórmons não podem estar certos, uma vez que consideram o Livro de Mórmon mais do que a Palavra de Deus. Eles têm o manual errado – e encontram-se no trilho errado. Pela mesma razão também encontramos tantas heresias na igreja católica, pois ela preza suas doutrinas eclesiásticas, seus dogmas e sua tradição mais do que a Palavra viva de Deus. E essa também é a razão de tantos problemas nas igrejas reformadas, pois elas estão mais ocupadas consigo mesmas do que com a Palavra de Deus. Toda igreja, toda denominação, precisa se perguntar: “O que é relevante para nós? A tradição, a doutrina da nossa igreja, o dogma, o afago do próprio ego ou a Palavra de Deus?”
Timóteo já foi exortado com insistência a ater-se à Palavra: “E tu, ó Timóteo, guarda o que te foi confiado...” (1 Tm 6.20). Paulo não escreve: “Ó Timóteo, guarde-me em boa memória”. “Ó Timóteo, pense naquilo que lhe falei”. Não, ele diz: “Timóteo, guarde o bem que lhe foi confiado – guarde a Palavra de Deus!” Essa palavra é verdadeira e confiável. E essa Palavra aponta para o Único Salvador (1 Tm 1.15).
A Palavra de Deus,
a Boa-Nova, é eterna: “Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão” (Mc 13.31). “Pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente. Pois toda carne é como a erva, e toda a sua glória, como a flor da erva; seca-se a erva, e cai a sua flor; a palavra do Senhor, porém, permanece eternamente” (1 Pe 1.23-25). Que lástima ver que, para alguns cristãos, a palavra de alguém tem mais peso do que a eterna Palavra de Deus, que tem valor para sempre e é verdadeira e viva.
Não importa nem um pouco se essa Palavra nos agrada ou não; se seu texto é belo, lírico, poético, histórico ou interessante. O que está em jogo é muito, muito mais do que isso, pois desta Palavra – da Sagrada Escritura – depende a vida ou a morte, o céu ou o inferno. Pois a fé, sem a qual ninguém é salvo, vem da Palavra (Rm 10.17).
Portanto, a Bíblia é um livro importante para a nossa vida, ele é ainda mais, ele é vital. Por isso, é de partir o coração quando vemos um livro tão precioso todo empoeirado, amarelado, rasgado ou sendo queimado. Quem faz isso está se comportando como um psicopata que atira no médico porque pensa poder fazer uma cirurgia em seu próprio coração.
Com toda a importância e todo o significado desse livro não precisamos nos admirar com o fato de a Carta aos Hebreus nos exortar com ênfase, mas também nos incentivar a permanecer nesta Palavra e a guardar o que o Senhor nos revelou por Seu falar. Guarde isto muito bem: você pode confiar cem por cento nessa Palavra, você pode confiar plenamente, sem duvidar e sem questionar, porque ela é a Palavra de Deus.
Você talvez esteja desesperado, arruinado, solitário ou desalentado? Agarre-se à Palavra de Deus, que diz, por exemplo: “Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos; levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo” (2 Co 4.8-10). Existem muitas outras promessas: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28). Com certeza você já ouviu essas promessas dezenas de vezes. Talvez até consiga recitar muitas passagens bíblicas de cor. Mas também crê nelas? Você as guarda no coração? Faça isso, pois a Palavra de Deus é válida eternamente. Seu consolo e suas promessas, sua fidelidade e seu amor são também para você, especialmente quando você não vê nenhuma saída para sua situação.
Em Hebreus 2.2 está escrito:
“Se, pois, se tornou firme a palavra falada por meio de anjos...” O que isso quer dizer? Que palavra foi anunciada por meio de anjos?
Vejamos Atos 7. Ali Estevão faz sua defesa diante do Sinédrio. E se reporta à história de Israel: “Foi Moisés quem disse aos filhos de Israel: Deus vos suscitará dentre vossos irmãos um profeta semelhante a mim. É este Moisés quem esteve na congregação no deserto, com o anjo que lhe falava no monte Sinai e com os nossos pais; o qual recebeu palavras vivas para no-las transmitir” (At 7.37-38).
Toda igreja, toda denominação, precisa se perguntar: “O que é relevante para nós? A tradição, a doutrina da nossa igreja, o dogma, o afago do próprio ego ou a Palavra de Deus?”
O que foi dado pelo anjo a Moisés no monte Sinai? As tábuas da Lei (comp. v. 53). Paulo diz: “...foi promulgada por meio de anjos, pela mão de um mediador” (Gl 3.19). Já vimos que o capítulo 1 da Carta aos Hebreus afirma que Jesus é superior e mais excelente que os anjos. Sem entrar mais a fundo no assunto da Lei em si, não posso deixar de dizer: a Palavra do Filho – que é a Boa-Nova, a mensagem da graça – é muito melhor, muito mais valiosa do que a palavra de anjos – que é a Lei. Em outras palavras, Jesus é muito superior aos anjos, significando que a graça é melhor do que a Lei!
Nosso texto diz que toda e qualquer transgressão da Lei trazia consigo o seu justo castigo: “Se, pois, se tornou firme a palavra falada por meio de anjos, e toda transgressão ou desobediência recebeu justo castigo” (Hb 2.2). A Lei mostrava às pessoas: “Vocês não podem encontrar a salvação a partir de si mesmos. Isso é impossível! Todos vocês são culpados diante da Lei. Todos vocês serão esmigalhados diante da Lei e receberão o salário do pecado – que é a morte”. E essa é a razão e o alvo da Lei: mostrar ao homem a necessidade de reconhecer seus pecados e de dar meia-volta e mudar de rumo.
A Lei já apontava para a necessidade de um Substituto, disposto e capaz de expiar nossa culpa e pagar o salário do pecado em nosso lugar. E quem é esse Substituto, esse Salvador? Essa Pessoa é o tema não apenas da Carta aos Hebreus, mas de toda a Escritura. Esse Substituto apto e disposto a realizar a expiação dos pecados da humanidade e a dar-lhes a salvação eterna não é outro senão Jesus Cristo, o Unigênito Filho de Deus!
Hebreus 2.1-4 diz ao homem
que ouve a Palavra de Deus, àquele que tomou conhecimento do caminho da salvação: “Como você é tolo se desprezar esta salvação!”
Dê ouvidos à Palavra de Deus! Ouça e pratique essa Palavra! Tolo é quem não o faz! É como alguém que está se afogando e não agarra a bóia salvadora pensando que se salvará por seu próprio esforço. Em sentido inverso, é válido o que diz João 8.31-32: “Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.
Mais uma vez eu pergunto: Você é cristão? Você permanece na Palavra? Guarda esta Palavra e vive segundo os seus ensinos? Ou você vive para si mesmo? Se pararmos para pensar apenas no que acarretava, na Antiga Aliança, não obedecer à palavra transmitida por meio de anjos, ou seja, à Lei, que conseqüências fatais deverá trazer consigo o desprezo pela Palavra do Filho, que é muito superior aos anjos!
Ouvimos o Filho, e agora temos de nos orientar por Sua Palavra. A própria Escritura nos desafia a ler, estudar e incorporar o que diz, nos incentiva a agir segundo seus preceitos e a ficar arraigados e firmes nela (2 Jo 9; Pv 4.13). A Palavra de Deus, a Sagrada Escritura, é seu guia, seu manual, o roteiro da sua vida.
Você pode chamar-se cristão. Pode ser batizado. Pode ir ao culto de vez em quando ou até à reunião de oração. Você pode se considerar uma boa pessoa. Mas você é um bom cristão? Será que não existe alguma coisa na sua vida que não está de acordo com o seu manual? Talvez você argumente que esses deslizes são bagatelas, que não são coisa séria. E ainda por cima pensa que não pode perder a salvação, já que você é cristão. Eu não faço a menor idéia do que lhe espera na eternidade, mas sei muito bem o que a Palavra de Deus espera de você hoje, aqui e agora: “Segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo” (1 Pe 1.15-16). “Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma, mantendo exemplar o vosso procedimento...” (1 Pe 2.11-12).
O que Deus espera de nós? Uma vida vivida segundo a Sua vontade, uma vida que honra o nome do Senhor, uma vida que contribui para que o Nome do Pai e do Filho sejam glorificados. Você atinge esse alvo tão elevado? Ó Deus, como é tolo quem não guarda a Tua Palavra! Por isso, animemo-nos uns aos outros a permanecer firmes nessa Palavra, a levá-la a sério e a obedecer o que ela diz, cumprindo tudo o que nos foi confiado nas páginas da Bíblia! Ela é a Palavra viva de Deus, o prumo da nossa vida.
Ouça a Palavra de Deus, creia na Palavra e guarde-a em seu coração. Esteja enraizado nela, e a coroa da vitória lhe está garantida! (Thomas Lieth)