As malvadezas de um frade incendiário “Livra-me, Senhor, do homem perverso, guarda-me do
homem maligno, cujo coração maquina iniqüidades e vive forjando contendas” (Salmo 140:1-2).
Ânimo, brava gente brasileira! Infelizmente o Frei Damião vai mesmo tornar-se santo.
Estão tentando modificar os fatos históricos ou me deixar desmemoriado, mas peço a Deus que não consigam nenhuma das duas coisas. Não, não faço uso de drogas alucinógenas e nem sou portador do Mal de Alzheimer (pelo menos, ainda não). A culpa é do neo-ilusionismo praticado pela igreja católica.
É, parece que tudo está perdido! A igreja do papado fez uma releitura positiva de um italiano que viveu no Nordeste brasileiro no século passado e o seu processo de beatificação, que antecede o da canonização, anda a passos largos. Para transformar um agressor em vítima, um incendiário em bombeiro, um raivoso encharcado de ódio em amoroso e pacífico, um reprovável em santo, somente entrando em cena a turma de ilusionistas da igreja católica romana.
Estou me referindo ao quase concluído processo de beatificação do Frei Damião de Bozzano, que precipitará o início do processo de sua canonização. Imagine, o iracundo Frei Damião será canonizado!
Quem foi o Frei Damião de Bozzano?
Seu nome de batismo é Pio Giannotti, e ele nasceu em 5 de novembro de 1898, em Bozzano, no Norte da Itália, filho dos camponeses Félix Giannotti e Maria Giannotti.
Começou sua formação religiosa aos 12 anos, quando foi estudar em um colégio de padres. Aos 19 anos foi convocado para o exército italiano e participou da Primeira Guerra Mundial. Em 25 de agosto de 1923 foi ordenado sacerdote, na Igreja de São Lourenço de Brindisi, em Roma. Aos 27 anos diplomou-se em teologia pela Universidade Gregoriana em Roma e foi docente do Convento de Vila Basélica e do Convento de Massa.
Em 1931, deixou a Itália, vindo diretamente para o Convento de São Félix de Cantalice (conhecido como o Convento dos Capuchinhos) no Recife. Dos 33 anos até a sua morte, aos 98 anos, residiu nesse convento.
Sua primeira missa em solo brasileiro foi rezada na Capela de São Miguel, no Sítio do Mel, do lado de fora da cidade de Gravatá, em Pernambuco, no dia 29 de setembro de 1931.
Frei Damião ocupou-se em disseminar “as santas missões” pelo interior do Nordeste. “As santas missões” eram um tipo de cruzadas missionárias, de alguns dias de duração, pelas cidades nordestinas. Nessas ocasiões, era armado um palanque ao ar-livre com vários alto-falantes onde o frade transmitia o seu discurso conservador e contra os protestantes.
Frei Damião conseguia arrastar multidões para ouvir suas palestras e tornou-se um fenômeno de popularidade religiosa no Nordeste, só comparável ao “Padim Ciço”, de Juazeiro do Norte. A propósito, Frei Damião é aclamado pelos católicos locais como o legítimo sucessor do Padre Cícero Romão Batista (para saber mais sobre o Padre Cícero, leia o artigo “Uma Viagem ao Caldeirão da Idolatria”).
Quando perguntado sobre os objetivos de suas “santas missões” aos sertanejos, o frei respondia que um dos objetivos era “livrá-los do Demônio, que queria afastá-los da Igreja e fazê-los abraçar outro credo [...]”.(1) O que o frade queria dizer por “Demônio”? Provavelmente, os protestantes.
Na ocasião de sua morte, em 31 de maio de 1997, o governo de Pernambuco e a prefeitura de Recife decretaram luto oficial de três dias. Seu corpo foi embalsamado, velado durante três dias na Basílica da Penha e no estádio de futebol do Arruda, em Recife. Várias autoridades compareceram ao seu velório, entre as quais o ex-presidente Fernando Collor de Mello, o vice-presidente Marco Maciel e o governador Miguel Arraes.(2)
Em 31 de maio de 2003, seis anos após sua morte, foi aberto o processo de beatificação e, posteriormente, de canonização de Frei Damião. Esse frade é apenas mais um, entre outros líderes religiosos católicos que viveram no Brasil, a ser candidato a santo.
Rastros de sangue deixados pelo Frei Damião na Paraíba
E quando vi, lá estávamos nós novamente: Marcos Nunes, um piedoso irmão em Cristo, e eu dirigindo por mais de mil e quinhentos quilômetros de estradas asfaltadas e de barro pelo interior do estado da Paraíba, um buraco aqui, uma lombada não sinalizada acolá, um desarranjo intestinal efêmero, uma bolha na região plantar, um rápido entorse de tornozelo, quase vinte entrevistas com testemunhas oculares e pastores, centenas de fotografias, sem falar em algumas filmagens.
Tudo isso em prol de pesquisarmos in loco a passagem pelo solo nordestino de um frade que ficou conhecido como o maior perseguidor dos protestantes nordestinos.
Gostaria de aproveitar a oportunidade para reinventar o turismo pelo interior paraibano. Até porque, para um pesquisador evangélico, há passeio melhor por aquelas bandas do que tirar dois fins de semanas para conhecer algumas das igrejas evangélicas em que o Frei Damião e/ou outras autoridades católicas mandaram tocar fogo, destruir ou apedrejar e que, mesmo após tamanha agressão, conseguiram se reerguer?
Houve perseguições religiosas em dezenas de cidades nordestinas. Porém, neste artigo vamos nos deter a analisar, em ordem cronológica, a perseguição exercida pela igreja romana contra os protestantes em apenas quatro cidades paraibanas.
Em Guarabira, PB: um memorial oco ao Frei agressivo
Mais uma megaestátua de um líder católico no alto de um morro: o Memorial Frei Damião, construído com dinheiro público e inaugurado em 19 de dezembro de 2004, em Guarabira, Paraíba, é algo fenomenal. Totalmente desproporcional em relação à simplicidade e à pobreza do povo ao seu redor.
É uma estrutura majestosa. Só o pedestal tem 12 metros de altura, e a estátua mais 22 metros de altura. Ultrapassou em altura e em largura o monumento ao Padre Cícero, em Juazeiro, no Ceará. No Brasil, só é mais baixa do que o Cristo Redentor.
O pedestal do monumento é composto de térreo e mais dois pavimentos, onde está localizado um museu do frade. O visitante circula andando em um corredor, observando fotos, notícias e histórias acerca do frei. O meio da estátua é vazado e quando se olha para cima se vê que a estátua é de concreto oco. É um “santo oco”, e essa é uma verdade que o povo protestante conhece muito bem.
Cerca de dois quilômetros morro abaixo está a Igreja Evangélica Congregacional de Guarabira. “Ela hoje tem suas portas de vidro, pois não temos medo de sermos apedrejados novamente pelos fiéis do Frei Damião”, ensinou-nos o atual pastor, Sandro Fernandes Paiva.
A agressão ocorreu no início da noite de inauguração do templo, no dia 21 de abril de 1937, na gestão do pastor Artur Pereira Barros. A ata da igreja descreve: “[...] um grande auditório cuja bancada estava repleta de famílias, inclusive crianças. Foram estes atacados de improviso por fanáticos do Frei Damião [...]. Esse cerco durou mais ou menos três horas, tornando-se mais perigoso quando indivíduos previamente preparados lançavam pedras nos fios desligando a energia elétrica. Nesta ocasião a maior parte do povo arriscando a vida começou a saltar por cima dos muros, permanecendo no templo os pastores e alguns membros [...]”.
Muitos dos agressores gritavam insultos aos crentes, que na época eram chamados de “bodes” pelos católicos. Alguns usavam aquelas túnicas marrom escuras, típicas dos capuchinhos e exaltavam o Frei Damião. No dia seguinte, a quantidade de pedras e paus jogados sobre os crentes totalizava mil e quinhentos quilos, detalha a ata. Alguns evangélicos saíram feridos e a fachada da frente da igreja ficou marcada com centenas de buracos causados pelas agressões.
Será que aqueles que construíram a estátua monumental do frade, há cerca de dois quilômetros de distância dessa igreja congregacional, sabem que o “santo oco” foi o responsável por inflamar e atiçar a multidão de católicos contra os evangélicos?
Em Catolé do Rocha, PB: onde o Frei fez escola
Entrevistamos vários moradores, hoje crentes no Senhor Jesus, que à época das “santas missões” do frade eram católicos roxos. Algumas das muitas frases proferidas pelo Frei Damião e ouvidas por esses irmãos, foram: “Não é pecado perseguir os protestantes pois eles são inimigos da Santa Igreja Católica”; “não ficará nesta cidade nem rastro de protestantes”; “casamento civil é só na Igreja Católica, na protestante não tem nenhum valor, é igual ao ajuntamento de um gato com uma gata”...
“Havia um incentivo dos políticos e da igreja católica para maltratar os crentes”, sentencia Pedro Nunes Neto (um ex-católico que hoje, aos 76 anos de idade, é evangélico).
Párocos e multidões de católicos foram instigados pelo amargurado Frei Damião que jorrava ódio pelos protestantes. Em Catolé do Rocha, o frade perseguidor perpetuou uma escola já existente de discípulos cruéis.
Ainda hoje, na calçada em frente à Igreja Matriz, existe um busto do Frei Damião de Bozzano, onde alguns devotos fazem seus pedidos.
Antes mesmo do raivoso Frei pisar nestas terras, o Monsenhor Constantino ensinava ao povo de Catolé do Rocha: “Aos protestantes, nós católicos não damos morada, não compramos, nem vendemos coisa alguma, muito menos entregamos correspondência e nem mesmo permitiremos a eles o fornecimento de água”.
Naquele tempo, havia uma fonte pública na cidade, conhecida como “O Poço do Vigário”. Dela e de alguns outros poços d’água, em algumas casas de pessoas importantes, o povo em geral tirava água para o consumo em suas casas. No entanto, os evangélicos não podiam mais pegar água. E agora? O que fazer? Onde buscar água para continuar vivendo? Mulheres e crianças protestantes choravam com fome e sede, homens evangélicos angustiados tentavam sair da cidade e o Monsenhor Constantino aproveitava a situação para convocar os crentes a regressarem ao seio da igreja romana. Estou narrando fatos ocorridos no sertão paraibano há cerca de setenta anos.
Mas, o nosso Deus é maravilhoso e tocou no coração de um casal católico (o senhor Hercílio Maia e dona Eleonora) que tinha um poço na sua residência. Eles ficaram sensibilizados com o sofrimento do povo de Deus e liberaram o seu poço para todos os evangélicos. O Monsenhor tentou impedi-los, mas não conseguiu. Então, amaldiçoou o casal, saiu irado e nunca mais os cumprimentou.
Miguel Guedes Bezerra era um católico praticante, mas hoje, com 96 anos, é salvo pelo sangue do Senhor Jesus e bastante lúcido. Bezerra me contou que havia emboscadas dentro do mato para apedrejarem, maltratarem e saquearem os “bodes” que viajassem de Catolé do Rocha para qualquer outro povoado satélite. Porém, mesmo assim a igreja de Cristo crescia.
O quebra-quebra dentro da Igreja Evangélica Congregacional em Catolé do Rocha aconteceu em uma noite de sábado, no mês de junho de 1938, com a autorização do perverso padre Joaquim de Assis. Foi na gestão do pastor Lidônio Fragoso de Almeida. Naquela ocasião estava sendo realizada uma série de conferências sobre o tema “idolatria”, ministrada pelo Rev. Josué Alves de Oliveira, um ex-pastor daquela comunidade.
Dona Maria do Carmo de Paiva Maia, que à época tinha 19 anos, é casada com Miguel Guedes Bezerra, já citado anteriormente. Maria do Carmo, hoje com 87 anos, lembra-se de muito detalhes daquela noite: “Eu era solteira e estava dentro da igreja, momentos antes do culto iniciar. Já tinha observado que um grupo de homens e rapazes começava a se ajuntar do lado de fora da porta da igreja. Por duas vezes, eles se movimentaram como se fossem entrar na igreja, mas não entraram. Na terceira vez, entraram mesmo, gritando insultos. Eles foram até o primeiro banco da igreja, o levantaram bem alto e sacudiram no chão, espatifando-o. Os intrusos fizeram a mesma coisa com o segundo banco. Saí correndo da igreja com medo e o pastor Josué Alves de Oliveira escapou pulando a janela. A algazarra só acabou quando a polícia chegou. Além de quebrarem alguns bancos, portas e a mesa, destruíram também a serafina (uma espécie de órgão antigo)”.
Aquela noite marcou para sempre a vida do então católico Miguel Guedes Bezerra (o esposo de Maria do Carmo). Miguel Bezerra nos relatou: “A multidão enfurecida, sendo contida pelos policiais, saiu em caminhões em direção ao povoado de Brejo dos Cavalos (hoje, Brejo dos Santos). Esses homens gritavam: ‘vamos para o Brejo, destruir a igreja dos bodes lá também!’, e partiram em direção àquele povoado. Eu já estava meio tocado com o testemunho de minha irmã, uma nova-convertida ao evangelho, e quando vi aquela cena infame, disse alto e em bom tom: ‘Vocês pensam que vão destruir os protestantes destruindo seus templos, mas não vão mesmo, pois a partir de hoje eu sou mais um deles!’ Me tornei crente no Senhor Jesus naquela noite!”
Marcos Nunes e eu fomos, então, até Brejo dos Cavalos conferir o que aconteceu por lá naquela noite.
De “Brejo dos Cavalos” a “Brejo dos Santos”: “Pode esperar bando de bodes!”
O templo da Igreja Congregacional em Brejo dos Cavalos foi destruído duas vezes.
Elizário Luiz da Costa era quase um sacristão da igreja católica de Brejo e entregava quem era evangélico aos padres. Ele já vinha aterrorizando os protestantes nos dias anteriores à primeira destruição do templo. Passava andando pela frente das residências dos evangélicos e gritava: “Bando de bodes, pode esperar, à noite vai chegar o que é bom para vocês. Vai ser pimenta do seu c..., bé, béé, bééé!”, relatam os irmãos João Alves da Silva e Ricardina Alves da Silva.
Dona Ricardina Alves da Silva, era a filha da zeladora da igreja evangélica e na época tinha 13 anos. Ela nos descreveu os acontecimentos daquela noite: “Era tarde da noite de um sábado, em junho de 1938. Naquela tarde tinha feito com mamãe uma faxina na igreja e deixado tudo pronto para o culto de domingo. Já estava dormindo, quando ouvi os gritos de homens enfurecidos e meu irmão saiu correndo comigo para dentro do mato. No dia seguinte, a igreja estava destruída, bancos e portas quebrados, teto e paredes furados e parcialmente derrubadas. Encontrei a Bíblia e a campainha que ficavam em cima da mesa jogadas dentro de um tanque atrás da igreja”.
Os fiéis, agora sem templo, passaram a se reunir dentro do mato com medo das represálias dos católicos. Após algum tempo, passaram a se reunir nas suas casas e, finalmente, decidiram reconstruir o templo em regime de mutirão. Antes do templo reconstruído ser inaugurado, veio a nova rebordosa da segunda derrubada.
Era o começo de uma noite chuvosa, de um sábado de dezembro de 1939, um ano e seis meses após a primeira destruição, quando o barulho começou: “Se preparem bando de bodes, hoje vamos matar tudinho”, gritavam os católicos enraivecidos e iniciaram o quebra-quebra.
Ricardina da Silva nos contou: “Dessa vez as paredes da igreja estavam reforçadas e bem mais grossas, espessas. Então eles fizeram uns buracos nas paredes que pareciam umas covas e nomearam cada um dos buracos – essa é a cova do bode fulano, essa é a cova do bode cicrano, e assim por diante. Meu pai foi até lá, ordenou que parassem, mas levou uma surra, foi arrastado até um barreiro, onde o jogaram. Meu irmão, ao ver que papai iria morrer, pegou uma espingarda, e deu um tiro para cima. Os agressores deixaram meu pai lá, fugiram e meu irmão o salvou”. Dessa vez a destruição da igreja foi quase total.
Naquela noite, os crentes apavorados fugiram para dentro do mato, algumas crianças pequenas se perderam na escuridão e só foram encontradas na manhã seguinte.
O medo tomou conta dos evangélicos que decidiram, alguns dias após esse incidente, fugir num caminhão. Partiram para a cidade de Boa Viagem, no Ceará. Durante a viagem, ao descerem uma ladeira, o motorista do caminhão pulou para fora e deixou o veículo descer à deriva. O pau de arara tombou, bateu na ribanceira, mas ninguém ficou ferido. Os homens protestantes correram atrás do motorista desertor, o pegaram e perguntaram porque tinha feito aquilo. O motorista confessou: “O padre me pagou para que pulasse para fora do carro em uma ladeira e deixasse que todos vocês fossem mortos”.
Os evangélicos finalmente chegaram a Boa Viagem, onde abriram novas frentes de trabalhos evangelísticos que existem até hoje.
Com os evangélicos dispersos, o prefeito e o padre do vilarejo de Brejo dos Cavalos decidiram mudar o nome do povoado. Afirmaram: “Já que os cavalos e os bodes (uma alusão aos evangélicos) se foram, só ficaram aqui os santos. De hoje em diante o nome desta cidade passa a ser Brejo dos Santos”.
Meu querido leitor, não pense que a igreja evangélica em Brejo foi pro brejo. Pois não foi, não.
Alguns anos mais tarde, os evangélicos decidiram retornar ao Brejo dos Santos, reconstruíram o templo no mesmo local dos anteriores e reorganizaram a igreja no dia 10 de maio de 1942. Hoje os evangélicos se emocionam em dizer que aqui é Brejo dos Santos, mesmo!
O pastor Edinaldo Alves da Silva conclui: “Atualmente, nossa igreja reconstruída tem mais quatro congregações, um ponto de pregação, cerca de 20% do povoado é crente no Senhor Jesus e isso nos torna a cidade com maior número percentual de evangélicos no sertão da Paraíba”. Aleluia!
Em Patos, PB: A igreja virou fogueira em noite de São Pedro
Era a semana de festas juninas, entre o “São João” e o “São Pedro”, e o Frei Damião estava em Patos com suas “santas missões”.
O repórter Euricles Cavalcante Macedo, do Jornal Brasil Presbiteriano, em um artigo intitulado “Frei Damião transforma templo presbiteriano em fogueira de São Pedro”, relata: “Frei Damião foi, ao contrário de santo, um implacável perseguidor de evangélicos, um terrorista intolerante, comandante-chefe de uma milícia de fanáticos”.(3)
As igrejas sertanejas, tanto as católicas como as evangélicas, tinham nos seus tetos alto-falantes (que, por essas bandas, chamam de difusoras). Assim, as pessoas do lado de fora das igrejas podiam ouvir as músicas, anúncios e até toda a missa ou culto.
Euclides Cavalcante Macedo, descreve:
Almir da Rocha conta que naquele dia “a Igreja Presbiteriana de Patos – pastoreada pelo reverendo Jônatas Barros de Oliveira, falecido em 96 – estava com o serviço de som externo ligado e tocando, como sempre fazia, músicas evangélicas”. Foi então que o padre Manoel Dutra, pároco local, dirigiu-se ao templo presbiteriano “acompanhado de grande multidão e entrou na igreja dos crentes, determinando que o som fosse desligado e que somente voltasse a funcionar depois que frei Damião deixasse a cidade”. O técnico do serviço de som desligou o aparelho e dirigiu-se à Delegacia de Polícia, onde registrou queixa ao capitão Severino Dias, que autorizou a execução das músicas sacras.
Quando o padre, que executou as ordens do frei Damião, ouviu soarem novamente as músicas evangélicas, “reuniu um novo grupo de fanáticos e dirigiu-se à Igreja Presbiteriana. Mas o capitão Severino desaprovou a atitude do religioso e ordenou-lhes que voltassem para sua igreja”.
No dia seguinte, 28 de junho, o capitão Severino Dias estava exonerado do cargo de delegado de polícia de Patos. O frei Damião, agora, estava livre para agir. Naquele clima de tensão, os crentes ficaram totalmente inseguros.
Eram vinte e duas horas, véspera de São Pedro. O clima de terror já estava instalado na pacata cidade de Patos. Através do serviço de som, anunciava-se que “não ficará nesta cidade nem rastro de protestante”.(4)
Era noite do dia 28 de junho de 1958 e estava tudo pronto para a missa começar do lado de fora da Igreja de Santo Antônio. A presença do Frei Damião arrastou multidões para o local onde o frade, dentro de alguns momentos, falaria de cima de um palanque improvisado.
O povo, anteriormente já instigado e inflamado pela liderança católica contra os evangélicos, partiu em direção à Igreja Presbiteriana em Patos, que ficava a cerca de quinhentos metros de distância, e a destruiu.
Enedina Xavier Inojosa, que na época tinha 30 anos e residia a poucos quarteirões da Igreja Presbiteriana, nos relatou: “Estava dormindo à noite e ouvi algumas explosões – eram mais fortes do que as bombas de São João –, acordei e os vizinhos falavam que tocaram fogo na igreja dos crentes”. Enedina só foi à igreja na manhã seguinte e a encontrou “queimada, suja e quase totalmente destruída”. Perguntei se ela sabia quem tinha mandado os católicos fazerem aquilo e a irmã foi bastante cautelosa: “o povo dizia que foi o Frei Damião e o padre que mandaram, mas eu não posso afirmar isso, pois não vi e nem ouvi, e só fui à igreja no dia seguinte”.
O fotógrafo profissional Adgerson de Morais Porto, que à época tinha 28 anos, gravou espontaneamente uma entrevista conosco. Ele não perde a oportunidade para afirmar que era “o fotógrafo oficial” dos eventos paraibanos, que fotografou várias inaugurações, inclusive as passagens do então presidente Getúlio Vargas pela Paraíba.
Depois que a turba enfurecida partiu da Igreja Presbiteriana, Adgerson Porto pegou sua câmara fotográfica e foi por conta própria fotografar a bagaceira.
“Era de dar dó. Uma coisa muito triste. A igreja estava toda queimada, por dentro e por fora, o teto tinha vários rombos, nas paredes estavam escritos palavrões e desaforos aos crentes. Toda a bancada, o púlpito, a mesa, as portas e as janelas foram jogadas para fora da igreja e consumidas pelas chamas. Fotografei tudinho e entreguei algumas fotos ao pastor Jônatas Barros de Oliveira e não tenho mais os negativos”.
Arnaldo Ferreira do Nascimento, que na época morava na rua 18, em Patos, participou do motim levando um motor para atiçar fogo na madeira que estava sendo retirada do templo. Arnaldo, algum tempo depois, se converteu e hoje é pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, no estado de São Paulo. Glória a Deus!
Após destruírem a Igreja Presbiteriana em Patos, a multidão partiu para destruir a Primeira Igreja Batista em Patos, mas o prefeito José Cavalcante e a polícia chegaram a tempo, impedindo que houvesse uma agressão semelhante. Alguém na multidão ainda jogou umas pedras contra a Igreja Batista, mas logo ouviu-se um disparo de uma arma de fogo, a multidão recuou, decidindo deixar a Igreja Batista intacta, retornando em procissão para “as santas missões” do Frei Damião.
O pastor Jônatas Barros de Oliveira foi ameaçado de morte e fugiu de trem para a cidade de Pombal. O irmão em Cristo José de Sá lembra-se daquele dia: “Fui eu que apanhei o pastor Jônatas, em fuga, na cidade de Pombal e o transportei de jumento até um sítio. O pastor continuou pregando pelos povoados próximos, sempre levando nas mãos uma latinha com as cinzas da Igreja Presbiteriana em Patos. Ele mostrava as cinzas e dizia: destruíram o templo, mas não a igreja”.
Apenas tornando uma longa história curta, alguns anos mais tarde, o templo foi reconstruído no mesmo local do anterior e hoje a Igreja Presbiteriana em Patos conta com quatro congregações, um ponto de pregação, além de uma escola.
Igual à Igreja Primitiva
Incrível! Onde houve perseguição ferrenha da igreja católica aos protestantes, o evangelho não apenas sobreviveu, mas cresceu com bravura.
Foram dezenas de cidades em Pernambuco e na Paraíba onde os crentes foram perseguidos pelos católicos. Em todas elas, sem exceção, o evangelho triunfou e cresceu. As igrejas destruídas foram reedificadas no mesmo local e delas saíram dezenas de outras igrejas, congregações, pontos de pregações, institutos bíblicos e colégios evangélicos.
Várias vezes, durante as pesquisas por estas plagas do sertão paraibano, Marcos Nunes e eu não conseguimos deixar de associar tudo o que vimos com a perseguição sofrida pela igreja primitiva, após a morte de Estevão, e descrita em Atos 8:1 e 4-8: “Naquele dia, levantou-se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém; e todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judéia e Samaria. [...] Entrementes, os que foram dispersos iam por toda parte pregando a palavra. Filipe, descendo à cidade de Samaria, anunciava-lhes a Cristo. As multidões atendiam, unânimes, às coisas que Filipe dizia, ouvindo-as e vendo os sinais que ele operava. Pois os espíritos imundos de muitos possessos saíam gritando em alta voz; e muitos paralíticos e coxos foram curados. E houve grande alegria naquela cidade”.
Hoje, presenciamos o inverso. Atualmente, a igreja romana, como um lobo em pele de ovelhinha, quer se aproximar dos evangélicos, e mostrar sutilmente que somos muito mais semelhantes do que diferentes. Esse é um perigo enorme, tão assustador quanto uma perseguição! Oh, Deus! Manda-nos de volta outra perseguição! Que caiam as máscaras!
Os dinossauros e o “Troglodita”
A cidade de Sousa, localizada a quatrocentos e quarenta e quatro quilômetros da capital João Pessoa, no alto sertão da Paraíba, é conhecida nacional e internacionalmente como a “Capital Mundial das Pegadas dos Dinossauros”.
Toda aquela região faz parte do conhecido “Vale dos Dinossauros”. Acredita-se que tenha mais de trezentas trilhas de suas pegadas. Respeitáveis paleontologistas da Europa e dos Estados Unidos estão sempre por lá.
O lugar mais conhecido é o Sítio Ilha, localizado a seis quilômetros de Sousa. Lá, com dinheiro do exterior, está sendo montada uma infra-estrutura de Primeiro Mundo: já foi construído até um canal que desviou o curso do Rio do Peixe e expôs no seu leito sedimentado alguns dos mais longos rastros de pegadas dos dinossauros do mundo. A grande atração são cinqüenta e duas pegadas de um iguanodonte ao longo de cerca de cinqüenta metros. Há também várias trilhas menores de pegadas de velociraptor. Vale a pena conhecer os rastros de animais que marcaram nossa terra.
O curioso é que do outro lado da estrada, a cerca de três quilômetros das pegadas dos dinossauros, foi erguida em um monte uma estátua de Frei Damião. Não pude deixar de fazer uma associação: de um lado da estrada os rastros de dinossauros e do outro os de um homem que agia como um troglodita brutal.
O Dicionário Aurélio diz que troglodita é aquele “que vive debaixo da terra ou em cavernas. Pessoa que vive sob a terra”. O Frei Damião de Bozzano era assim, no quesito de agressão aos evangélicos: instigava as massas, mas ficava nas sombras, agia no subterrâneo. É aquele tipo de pessoa que manda matar e quando é pego diz que não tinha nada a ver com o crime.
Minha tese defendida neste artigo é uma só: apesar do Frei Damião de Bozzano nunca ter sido pego apedrejando uma igreja ou surrando um evangélico, com o seu discurso inflamava não apenas os jovens capuchinhos, mas a multidão de católicos para cometerem atrocidades contra nós. Os indícios são fortes de que o frade ficava na moita com o seu sorriso de hiena, instinto de chacais e seus dentes sujos de sangue de protestantes. Em decorrência disso, é minha proposta que a igreja católica suspenda imediatamente o seu processo de beatificação. Uma provável canonização pode comprometer mais ainda a imagem da igreja romana perante os seus fiéis.
Frei Damião de Bozzano pediu votos para Fernando Collor
“Nas eleições presidenciais de 1989, o então candidato Fernando Collor de Mello fez comício ao seu lado em Juazeiro do Norte e distribuiu calendários eleitorais com a figura do frade”.(5)
O Frei aceitou o convite do então presidente Collor de Mello e posou sorridente, em pé entre o presidente e a então primeira-dama, no gabinete no Palácio do Planalto.
“O velho capuchinho chegou a caminhar ao lado do casal Collor numa das cerimônias de descida da rampa do Palácio do Planalto”.(6)
No entanto, vamos esquecer que esse frade era cabo eleitoral de Fernando Collor, pois isso pode denegrir mais ainda sua imagem. Vamos apelar para uma amnésia intelectual, assim como fez recentemente o agora senador Fernando Collor de Mello, ao posar de injustiçado pelo seuimpeachment. Como relatou Roberto Pompeu de Toledo, ensaísta da revista Veja: Vamos esquecer “as denúncias do irmão de Collor, os feitos de PC Farias, as extorsões, o caixa dois, a Operação Uruguai, as mentiras, como se tudo não passasse de uma alucinação coletiva do povo brasileiro”.(7)
É melhor também esquecermos a amizade do Frei Damião com Collor de Mello; pode pegar mal tanto para Collor quanto para o frade.
Então, vamos também retirar das nossas mentes as perseguições exercidas pelo capuchinho contra os evangélicos; pois isso pode dificultar sua canonização. Vamos dizer que é uma farsa, uma ilusão coletiva dos protestantes; uma paranóia dos evangélicos. Enfim, teremos um frei incendiário repaginado, um malvado bandido santificado e ninguém envergonhado, pois para a liderança católica é melhor assim.
Conclusão: O perigo do tempo nos fazer esquecer
“Não te associes com o iracundo, nem andes com o homem colérico, para que não aprendas as suas veredas e, assim, enlaces a tua alma” (Provérbios 22:24-25).
A igreja do papado está desinformada ou ela própria sofrendo de hipomnésia! Quer santificar o papa Pio XII, o padre jesuíta José de Anchieta, a freira Anna Katharina Emmerick (veja o artigo “A Paixão de Cristo de Mel Gibson”) e o iracundo Frei Damião, entre outras figuras.
O caso da santificação do Frei Damião de Bozzano é dos mais espantosos deste espantoso Vaticano. Para proclamar a sua canonização, a igreja católica terá de colocar muito verniz em madeira ruim. Espero que em vez de mandar matar o mensageiro das más notícias, a igreja do papado clame por Jesus e se purifique.
Faz tanto tempo que as igrejas evangélicas foram invadidas, os telhados caíram e as bancadas foram incendiadas que ninguém se lembra mais. O tempo da igreja católica, cedo ou tarde, sempre a inocenta.
Instituições arcaicas tendem a cultuar o banditismo. Foi assim com a igreja católica à época da Inquisição, com suas histórias de vomitar: homens, crianças, velhinhos e velhinhas, por qualquer motivo, eram vítimas de torturas, sangue e fogueira. Às vezes, me parece que a igreja católica romana ainda está estacionada nessa fase. Ou existe algum outro motivo para a santificação de um mandante de crimes?
Oro muito ao nosso Deus, pois sei que o assunto aqui colocado é grave e horroroso e não termina em um simples artigo. Oro para que esta matéria seja apenas um rascunho do que acho que deva ser profundamente estudado pelos evangélicos e católicos, antes da canonização do Frei de Bozzano.
Coragem, da pátria filhos! Há uma esperança ainda para a nossa nação. A esperança é Jesus, o Santo de Israel (Isaías 41:14). Não há santo como o Senhor (I Samuel 2:2) e é este santo Senhor que nos santifica (Levítico 22:32b) e não uma instituição religiosa, como o Vaticano, e muito menos uma pessoa.
A Bíblia nos ensina que somos cidadãos celestiais e embaixadores de Deus no planeta Terra (I Pedro 2:11-12). Os heróis da fé do Velho Testamento aspiravam uma pátria superior (Hebreus 11:13-16) e deram a própria vida por amor ao Senhor.
Que privilégio Deus nos deu de sermos sal da terra onde estamos, sermos luz do planeta e um bálsamo no açoite deste mundo. Os neo-ilusionistas da liderança católica querem nos fazer esquecer de fatos verídicos e queimar das nossas mentes os arquivos contrários à igreja do papado.
Peço a Deus, que a exemplo daqueles que sofreram perseguições no sertão nordestino, não venhamos a nos esquecer da nossa missão de sermos “sais”, “luzes” e “bálsamos” em uma terra tão idólatra. Peguemos, pois, o bastão dos nossos antepassados e corramos com paciência a carreira que nos está proposta, anunciando Jesus como o único Salvador e a única solução para os problemas mais íntimos das nossas almas. “Santo, Santo, Santo é o Senhor”, e isso o tempo do Vaticano jamais conseguirá apagar da minha mente. Amém!
Bibliografia:
- Pernambuco de A/Z. Biografia do Frei Damião. http://www.pe-az.com.br/biografias/frei–damiao.htm.
- Id.
- Artigo: “Frei Damião transforma templo presbiteriano em fogueira de São Pedro”, por Euricles Cavalcante Macedo, Jornal Brasil Presbiteriano. Órgão oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil. São Paulo, SP, Agosto de 1997, página 16.
- Id.
- Artigo: “Longa Agonia. Frei Damião tem morte cerebral aos 98 anos”, Istoé datas, 4 de junho de 1997. http://www.terra.com.br/istoe/datas/144405.htm.
- Id.
- Artigo: “Dois encontros, um só sentimento”, por Roberto Pompeu de Toledo, revistaVeja. Editora Abril, São Paulo, SP, edição 2001, ano 40, número 12, 28 de março de 2007, página 126.